Artigo escrito pela Marta Romão, que esteve dois meses como voluntária na Simabo.
Dois meses como voluntária na Simabo parecem uma eternidade para quem fica para trás, para os projetos suspensos no ar e para a rotina do dia a dia. Mas, para mim, voaram empurrados pelo vento da ilha, passaram mais rápido com o pulsar do coração e terminaram num piscar de olhos que nos desperta de um sonho.
Estes meses foram mais do que suficientes para perceber a importância do trabalho desenvolvido pela Simabo, mas foram poucos para um projecto tão ambicioso.
A missão da Simabo às vezes parece o horizonte da ilha: os sonhadores sentem o que não se vê, avistam terra firme mesmo em dias nebulosos, guiam-se por sol e marés. Mas as almas pequenas não vêem o amanhã e não têm paciência para semear mudanças.
Parte do trabalho desta associação passa por desenvolver campanhas de castração gratuitas por toda a ilha, bem como ações de sensibilização nas escolas de São Vicente. Medidas que nem sempre têm um efeito imediato, mas que são as únicas que podem garantir um futuro mais harmonioso entre pessoas e animais.
Nas campanhas de castração, os funcionários da Simabo, ajudados por voluntários, percorrem diversas zonas da ilha e montam a sala de cirurgia numa tenda de campanha ou num espaço cedido por associações locais. De sol a sol, fazem a castração de cães e gatos trazidos pelos seus donos e, quando sobra tempo, de cães de rua apanhados pelos locais.
No Lazareto, uma das zonas com menor adesão a estas campanhas, viam-se crianças que corriam alegremente com os seus carrinhos de mão a tentar transportar cães de rua, para assegurar que também eles teriam oportunidade de viver mais saudáveis e felizes.
Quando as via nesta brincadeira pensava que, de facto, todas as nossas esperanças estão ligadas à geração de adultos de amanhã. E que só as suas mentes curiosas e plásticas podem perceber realmente a importância do que ensinamos na escola: cuidar dos animais, a relevância da castração e considerá-los seres como nós.
“Got ma catchorr é si ma bo”
Dizia em coro uma sala com 30 meninos. Como bem explicaram, traduzido do crioulo, quer dizer que os gatos e os cães são como tu. Ficam tristes, sentem-se sozinhos e abandonados, exactamente como nós. Gostam de carinho, de um lar e do amor de uma família, tal como nós.
Juntamente com a minha colega Danielle, tive a oportunidade de ir às três escolas do Agrupamento Pólo 14 de São Vicente, onde trabalhamos com mais de 800 crianças. Numa pequena escola nas colinas que rodeiam o Mindelo, sentadas numa sala sem portas, aprendemos que afinal é fácil explicar a relevância dos sentimentos dos animais. Os adultos complicam. Aqueles meninos que misturam as línguas da sua cabeça têm o coração no sítio certo, mas cabe-nos a nós guiá-los para que se tornem na mudança de amanhã.
Mudar a mentalidade de uma sociedade requer tempo, persistência e resiliência. É uma longa estrada que precisa de sonhadores que mostrem o caminho quando as forças fraquejam. Sejam voluntários, funcionários ou uma criança que traz o seu cão ao veterinário depois de uma aula connosco.
Nestes dois meses, aprendi a verdade por detrás de tantos clichês. Desde ver a felicidade nas mais pequenas coisas até aprender a escutar o coração. Nestes dois meses chorei pelas injustiças do mundo e arregacei as mangas para o próximo round. De mãos dadas com as almas de coração forte que compõem a Simabo vejo um horizonte para lá do mar.
A comunidade da Simabo é formada pelos funcionários locais, pela rede de voluntários e por cada pessoa que contribui para o bem-estar de um animal. Para continuar a sua missão, a Simabo necessita sempre de apoio. Doa o teu tempo, doa à distância ou ajuda um dos animais que acolhem. Torna-te num farol nas noites mais escuras e ajuda a Simabo a continuar esta longa caminhada.
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